Me entreguem seus filhos
4 de Setembro de 1942
No meio da manhã Lebo, o chefe da fabrica passou avisando
que todos teriam que sair no meio da tarde para ouvir um discurso do líder
Rumkviski na praça (???) e, por isso, todos tinham que acelerar o trabalho para
entregar a meta do dia mais cedo.
Sara e Rushka estavam assustadas.
Já faziam algumas semanas que o clima no gueto estava tenso,
no dia 01 de Setembro os alemães haviam invadido o hospital do gueto e retirado
todos os doentes e enviado para os trens.
Muitos falavam em uma nova deportação para longe do gueto.
Falavam que os alemães estavam estacionando vários vagões de carga no terminal
perto do gueto e que deveriam servir para carregar os judeus para longe de
Lotz.
Mas ninguém sabia como seria isso... Quantas pessoas? Para
onde? Vão as famílias inteiras ?
Algumas pessoas diziam que podiam confiar em Rumkoviski que
ele negociava com os alemães, afinal de contas o gueto já era uma enorme
fabrica para os alemães e não fazia sentido acabar com isso em plena guerra.
Mas tem gente dizendo que os alemães estão perdendo a guerra
para os russos e que em breve os soldados
do exercito vermelho estarão em Lotz e os alemães não precisarão mais dos
trabalhos do gueto.
No final das contas so fica o medo... e a fome...
As 3:30 da tarde Lebo avisou que todos deveriam ir para Praça
Strazy Pozarnej perto do velho cemitério Judeu para todos ouvirem um comunicado
de Rumkowiski as 4:00 da tarde.
A praça já estava cheia de gente e tinham colocado
autofalantes e microfone em um palanque.
Sara e Rushka ficam na borda da multidão, o dia esta cinza
apontando a chegada do Outono e o vento um pouco mais frio do que eles
esperavam.
No palanque estão os guardas da policia judia do gueto com
seus cassetetes, são muitos, isso aumenta ainda mais a tensão, esta claro que eles
esperam algum tipo de confusão e revolta, ou seja, as notícias não serão boas.
Chaim Rumkowski sobe ao palanque, seus cabelos parecem ainda
mais brancos e tem os ombros caídos, esta envelhecendo cada vez mais rápido, e
mesmo com chapéu, sobretudo e óculos, não deixa de ser um judeu com a estrela
amarela pregada no peito.
Quando começa a falar tem a voz tremula e baixa, esta
difícil de entender e alguém aumenta o volume.
“... Eles nos pedem para desistir do melhor que temos, as nossas
crianças e nossos velhos...”
Mas do que ele esta falando ?
“...em milha velhice me vejo obrigado a estender as minhas
mãos e pedir-lhes, irmãos e irmaõs, me deem, pais e mães, me entreguem seus
filhos..”
A multidão esta em silencio, ninguém esta entendendo bem o
que Chaim Rumkowski esta falando, não faz sentido.
“... eles nos deram ordem para deportar mais de vinte mil
judeus para fora do campo, se me negava me ameaçaram de fazerem eles mesmos...”
Mas para onde vão ? quando e quem deve ir ?
As pessoas começam a falar, mães começam a chorar com seus
filhos no colo, os pais olham uns para os outros buscando alguma forma de
ajuda.
“... pediram vinte e quatro mil vidas, três mil por dia por
8 dias. Consegui reduzir para vinte mil, mas com a condição de que sejam incluídas
as crianças menores de 10 anos e os idosos acima de 65 anos, os outros estão
salvos...”
“...
Salvos ? Salvos do que ?
Sara e Rushka não tem filhos mas a dor de todos a sua volta
é enorme.
Pais e mães gritam, choram, prometem morrer antes de
entregar seus filhos.
O alto falante continua falando...
“... Irmãos e Irmãs, entreguem eles a mim. Pais e mães, me
entreguem suas crianças...”
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