As pedras pretas
As Pedras Pretas
Sara acordava cedo, o trabalho na oficina começava as 05:00
da manhã, mesmo no inverno e ia até as 06:00 da tarde.
Tinha fome, mas isso não era novidade. Desde que se mudou
para o gueto a fome é uma companheira constante. Estava muito magra, mas estava
viva.
Desde que seu pai morreu seus dias passaram a ser somente a
busca por estar viva e trabalhar na oficina, esta ajudando muito. As oficinas
de Rumkowski.
Se não fosse sua amiga Rosa Walmann, a Ruska, ela não teria sobrevivido.
Elas passam mais de 12 horas por dia costurando uniformes alemães,
Sara tinha que costurar os punhos e colarinhos nas camisas dos soldados.
O chefe se chamava Leibo e era muito bravo, ficava o dia todo
ameaçando demitir quem não conseguisse acabar o trabalho do dia. A demissão era
quase uma setença de morte.
Quem não trabalhava tinha que tentar viver de esmolas, trocas
ou roubos, mas poucos conseguiam passar pelo inverno.
Ruska acordava ainda mais cedo e as 04:30 da manhã batia na
porta do apartamento de Sara. Esta hora a casa toda já estava disperta e Jacó
logo seguia também para a oficina de sapatos onde trabalhava colocando solas
nas botas.
Janeiro de 1941 foi um inverno muito duro em Lodz e dentro
do gueto era quase insuportavel. O frio batia -30 graus
e a agua congelava dentro de casa.
Todos os dias a carroça passave pelas ruas retirando as
pessoas que morreram durante a noite para levar um dos dois cemiterios judeu.
Na maoria eram velhos morrendo de tifo ou criança morrendo de frio e fome.
Já foram tantos que as pessoas já nem ligam mais.
A neve já caiu a cerca de uma semana e agora só ficam as
pedras pretas da calçada, suja, molhada e escorregadia.
Sara e Ruska caminham quase uma hora na escuridão para a
oficina. Estas pedras são geladas e feias, no menor descuido pisam em uma placa
de gelo e la vem um tombo feio.
Estas pedras já estão aqui há muitos anos e viram a Lodz
crescer com suas fabricas, seu comercio, suas festas.
Jovens caminhavam por estas ruas buscando aventuras e
emoções e agora estas pedras só veem medo, dor, fome e morte.
Dentro do gueto as regras de comportamento eram simples, o
Sondercomando, policia de judeus, obedecia ao lider Chaim Rumkowski cegamente e
este obedecia aos Alemães e Poloneses sem nenhuma discução. Não existiam
regras, só ordens.
Chaim Rumkowski, o chefe do Sundecomando, parece um lorde caminhado pelas ruas do gueto
em seu cavalo branco e morando na enorme casa perto de grande cemiterio judeu.
Sara não sabia se ele é um bandido ou heroi. A maioria dizia
que ele estava ficando rico com o trabalho dos judeus mas outros diziam que sem
ele o gueto não seria importante para os alemães e ninguem sabe o que eles
podiam esta fazendo.
Todos os dias chegam noticias ou fofocas de outas cidades.
Dizem que existem alguns campos perto de Varsovia e Kracovia
onde os judeus vivem muito pior do que no gueto.
Falam que quem é mandado para estes luguares não voltam
mais, se é assim mesmo, parece que estar no gueto ainda é a melhor opção.
Cercaram os quateirões do gueto com os arames farpados em
Maio de 1940 e desde então todos tem que usar as braçadeiras de pano com a
estrela de davi em amarelo no braço o tempo todo e nunca podiam sair do gueto.
Tinha um bondinho que cruzava o gueto, mas ninguem podia
usar eles, as ruas estão isoladas e eles passam com poloneses e alemães indo e
vindo. As pessoas do gueto são como animais em um zoologico e muitos tem
vergonha de serem vistas magras, sujas ou em farrapos, outras já não tem mais
nada a perder ou sentir. São pessoas que já perderam tudo, filhos, mulheres,
pais e vagam pelas ruas esperando pela morte ou algum pedaço de comida.
O olhar das pessoas nos bondinhos são, na maioria das vezes,
de indiferença, era como se não estivessem vendo pessoas ali.
Sara e Rushka andavam varias quadras até chegarem na
passarela de madeira que cruzava a rua do bondinho e levava para o outro lado
do gueto, onde estavam as oficinas e pequenas fabricas.
O calçamento do outro lado também era feito das mesmas
tristes, frias e feias pedras pretas. No caminho alguns Chasidins, fanaticos
religiosos, ficam rezando sem parar, eles acreditam que D´us vai libertar e
salvar todos, Sara e Rushka já não tem tanta certeza disso.
Desde que o pai de Sara morreu de tifo ela teve que se casar
com Jacó para ter um lugar seguro para viver.
Eles moram em um apartamento com outras 3 familias, ou o que
sobrou delas. E todos já estão muito mais magros e cabeludos do que estavam
quando chegaram.
Com a chegada do verão tudo muda, os velhos já não morrem
tanto, agora são as cerianças qu alem da fome sofrem com os piolhos e diarreia
por conta do esgoto que corre nas ruas.
A policia de judeus, que obedecem a Rumkowski passa o dia
todo procurando por comida ou coisas que podem confiscar para venderem o
noercado negro. Uma lata de leite ou um pacote de cigarros valem uma fortuna e
muitas muita gente faz qualuqer coisa para conseguir isso, qualquer coisa
mesmo.
Tinham alguns garotos, com cerca de 12 ou 13 anos, varios já
orfãos, que passavam o dia todo tentando roubar alguma coisa para trocar ou
vender, quando são pegos são açoitados pela policia judia, os policiais
Poloneses pou soldados alemães quase nunca entram no gueto, só quando algo
grave como a apreenção de uma arma ou um grupo maior resolve se rebelar, mas no
dia dia quem realemente bate, prende , estorque sõ os policiais Judeus mesmo,
por isso muita gente acha que Chaim Rumkovski é uma pessoa má.
Uma vez 3 garotos foram capiturados depois de roubarem
batatas e beterrabas de um deposito da policia. A policia polonesa levou eles para
perto da escola, que também ficava perto do cemiterio.
Os policiais poloneses chamaram as outras crianças para
assitirem o castigo para verem o que acontece com quem faz isso.
Tiraram quase toda roupa dos meninos, estavam magros e dava
pra ver os ossos dos ombros e costelas.
Amarraram os meninos em uma cerca e bateram neles.
Bateram com correias de couro.
Os cachorros dos policias ficavam latindo, queriam moder
qualquer coisa, mas um dos policiais segurava eles com força, ninguem tinha
coragem de falar nada.
Os meninos gritavam, choravam, pediam perdão e misericórdia,
mas os Poloneses seguiam batendo até que pararam de chorar.
Ficaram amarrado na cerca até os policiais irem embora.
Umas mulheres e homens que estavam assistindo correram para
tirar os meninos dali e tentaram levar para o hospital do gueto, mas ficava
longe, pegaram um carrinho de mão de alguem que estava ali perto e correram
para o hospital.
Sara nunca mais viu estes meninos.
Sara e Ruska conversam muito sobre isso, sobre como
conseguir mais comida, um sapato velho novo, uma nova touca ou meias.
A vida de todos passou a ser só isso, como se manterem vivos
e seguir andando naquelas horriveis pedras pretas.
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